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Le Cirque: O Espetáculo das Ninfas - As quatro estações. Part 2

22 de setembro de 2013


Leia a primeira parte do conto aqui
A criança riu diante da minha falta de reação. Mas o que eu poderia fazer? Se não ficasse muda pela que estava acontecendo, o ficaria pela beleza de Primavera.


Ela era negra como a terra mais fértil, e seus olhos eram tão verdes quanto folhas de uma árvore saudável. Seus cabelos mudavam de cor a cada momento, como se fossem um espelho refletindo as cores das flores. Vestia um simples vestido branco, e andava descalça pela terra que o chão havia se transformado.

- É lindo, não? - a pequena me perguntou.

Sua voz era tão serena e delicada, que eu quis ouvi-la para sempre.

- Sim. - foi a única coisa que eu consegui responder.

- Então por que vocês pintaram tudo de cinza?

Havia tristeza em sua voz, e eu me senti culpada por não ter uma resposta.

- Eu não sei.

- Desculpe-me, mas vocês são como parasitas, não? O mundo funcionava bem sem vocês aqui. A raça humana veio por último, e, mesmo assim, vocês conseguiram ser burros o bastante para achar que tudo foi feito para vocês. E, então, estão destruindo o que a mãe natureza lhes deu, querendo cada vez mais, como filhos ingratos. Talvez os humanos sejam um erro.

Novamente, fiquei sem palavras. Repentinamente, como se tivesse percebido que falou algo indevido, levou as mãos à boca.

- Eu não deveria ter dito isso. Afinal, você está aqui pelo espetáculo, não? Deixe-me começar. Suba naquela macieira.

Assim que subi, ela começou a cantar. Uma melodia linda, tão suave e envolvente que parecia me carregar. As flores começaram a ser mexer ao som da sua voz. Dentes-de-leão se levantaram e rodopiaram no ar, e então de "explodiram". Ela começou a dançar, e as flores a acompanharam. Quando ela girou, flores de diversas cores foram lançadas no ar, imitando-a. A dança se assemelhava ao ballet. Era a coisa mais extraordinária que eu vi em toda a minha vida. Havia magia ali. As folhas faziam um barulho ritmado que complementava a voz de Primavera. Em um dos saltos que deu, agarrou-se ao cipó da maior árvore daquele espaço. Prendeu-o em suas pernas e segurou-o apenas com uma mão, de um modo que fez com que o resto de seu corpo ficasse quase livre no ar. Como se quisessem "voar" também, a árvore soltou várias folha que caíram sobre ela, e o efeito resultante foi incrível. Ela cantava e ria, e eu cantava e junto. Então fui convidada à me juntar a dança. Ao descer de onde estava, senti as flores se mexerem aos meus pés, como uma carícia gostosa. Ela desceu do cipó também, e dançamos juntas, no meio de tudo aquilo. Era um sonho, e eu não queria acordar. Não pensava em nada mais, minha mente estava vazia. Eu nunca estive tão feliz.

Após um tempo que me pareceu tanto infinito, quanto curto demais, caímos no chão, exaustas. 

- Eu acabei de te dar a fórmula da alegria. Não conte-a a ninguém, ok?

- Se me deu, não percebi.

Ela riu.

- Exatamente. A felicidade pura é assim. Você simplesmente sente. -e subitamente tornou-se séria- Mas agora eu preciso ir. Você tem mais garrafas para ver. Mas nós vamos nos encontrar de novo.

Antes que eu pudesse protestar, ela me abraçou forte e sussurrou:

- Tampe minha garrafa quando levantar.

Assim que isso foi dito, tudo evaporou. Sumiu. Desapareceu. Desintegrou-se.A vela estava lá, como sempre esteve, e eu encontrava-me deitada no chão. Quando consegui recompor minhas noções de tempo-espaço, percebi a garrafa das flores aberta em minha mão, e uma folha grande na outra. Tinha um recado:

"Por favor, não se torne outra parasita. E aproveite o espetáculo!"

Li em voz alta, e, assim que terminei, ouvi sua risada encher o ar. Fui tomada de novo por uma alegria imensa. Tampei a garrafa e voltei-a para seu lugar na mesa. Peguei a de areia e respirei fundo antes de destampa-la. 

Afinal, eu não estava em um circo comum.
Esse belo texto foi escrito por Larissa Gab. dona de um imenso talento pela escrita. A conheci através de uma amiga, ano passado a convidei para postar uma historia aqui no blog e apos meses ela veio me surpreender com essa historia encantadora. Em breve a terceira parte.

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