Aquele circo não tinha nada de extraordinário. Talvez fosse normal até demais. Estava bem conservado, mas as marcas do tempo eram visíveis. Seu nome também não era algo muito inovador: Le Cirque, apenas isso. O Circo.
Mas a saudade falou mais alto. A lembrança dos circos que eu visitei quando criança e como tudo era bonito e impressionante, me fizeram ignorar o quanto aquele circo parecia ser um daqueles que tem espetáculos mal produzidos, com pipoca porcamente feita, e pagar a entrada para assistir o que eles tinham a oferecer. Havia uma leve esperança de que aquele circo fosse realmente velho, e que a tradição valesse o espetáculo.
O bilheteiro era um senhor doce que vestia roupas de época, algo bem antigo mesmo, que lhe caía perfeitamente. Avisou-me que o espetáculo principal demoraria a começar, e que eu poderia andar pelas outras tendas. Mas, além da tenda principal e a do bilheteiro, havia apenas a da lanchonete, cartomante, e uma escarlate não identificada, em péssimo estado de conservação, onde uma velhinha, também trajando roupas de clássicas, estava parada há um certo tempo. Ela sorriu ao me ver.
- Então jovens ainda frequentam velhos circos?
- Não sei os outros mas eu sim. São a melhor parte da minha infância. Pra mim são lugares mágicos.
Ela riu da minha resposta. Mas não foi um riso de deboche, e sim como se ela estivesse feliz em ouvir isso.
- Então talvez você queira ver. A principal atração desse circo, por anos, foi a mágica. Até que as pessoas simplesmente pararam de acreditar nisso. Mas, se você acredita de verdade, você precisa ver. Dentro desta tenda tem quatro garrafas. Você poderá ver todas. Gire a rolha que as tampa sete vezes, e então puxe.
- Mas o que exatamente tem dentro delas?
- Hoje é dia das ninfas. Elas te mostrarão o que quiser. Apenas aproveite e agradeça-as quando acabar.
Então eu entrei. A tenda era pequena e escura, iluminada apenas por uma vela no centro de uma mesa, no meio do espaço. Ao redor da vela, haviam quatro garrafas. Uma continha flores, a outra areia, a terceira folhas secas e a quarta, algo meio parecido com sorvete branco e neve.
Escolhi a primeira.Após sete giros puxei a tampa e a garrafa se abriu, como a senhora havia falado. A vela se apagou, mas a escuridão não me engoliu por mais que alguns segundos. A luz voltou aos poucos, vinda de algum lugar que nunca consegui descobrir. As flores, surgidas do nada, também eram um mistério. A pequena tenda transformou-se num grande círculo, cheio de flores das mais variadas espécies e perfumes, juntamente com várias árvores frutíferas. As paredes e o teto estavam cobertas por cipós e trepadeiras, como heras e maracujás-roxos. Era uma beleza que eu pensava ter sido extinta da natureza pelo homem. Estava tão maravilhada que pulei de susto quando senti puxões e minha blusa. Era uma criança pequena, tão bela quanto a paisagem, que usava uma coroa de flores.
- Obrigada por ter me escolhido primeiro. Eu sou a Primavera.
Esse belo texto foi escrito por Larissa Gab. dona de um imenso talento pela escrita. A conheci através de uma amiga, ano passado a convidei para postar uma historia aqui no blog e apos meses ela veio me surpreender com essa historia encantadora. Em breve a segunda parte.
Ain que fofa a história. Me fez sorrir. Tô ansiosa para a parte dois!
ResponderExcluirBeijos,
posrealidade.blogspot.com.br
Eu adorei esse texto. Quando você vai publicar o próximo? Beijos!
ResponderExcluirNosso Capricho
apsmass.blogspot.com
Assim que estiver pronta a segunda parte, ela irá me enviar e irei publicar, ainda não sei ao certo qual será o dia!
ExcluirQue lindo, muito criativo.
ResponderExcluirVou ler as próximas partes com certeza.
Parabéns a autora, amei.
SUETERVERMELHO.BLOGSPOT.COM